quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Exposição Fundição Artística no Brasil.

UM OLHAR SOBRE A FUNDIÇÃO ARTÍSTICA NO BRASIL                                 


“(...) não nos situaremos num período remoto, onde nos seria demasiado fácil descrever a idolatria do fogo. O que nos parece interessante é apenas constatar a secreta permanência dessa idolatria.”

GASTON BACHELARD. A Psicanálise do Fogo. Prefácio, 1949


Gaston Bachelard, em sua análise sobre a imaginação e a linguagem poética, fala sobre a imaginação que surge da materialidade própria do mundo. Dedicando-se às imagens primordiais dos elementos da natureza, seus ensaios são parte de um estudo maior em que busca desvendar o que ele denomina “lei dos quatro elementos poéticos”. Ao empreender um estudo das imagens e da imaginação, o filósofo lança uma luz sobre o potencial determinante da natureza e da materialidade do mundo na construção de imagens e, por que não dizer, da linguagem e da cultura.

Vemos prevalecer, no reino da imaginação, uma lei dos quatro elementos, que classifica as diversas imaginações materiais conforme elas se associem ao fogo, ao ar, à água ou à terra. E, se é verdade, como acreditamos, que toda poética deve receber componentes — por fracos que sejam — de essência material, é ainda essa classificação pelos elementos materiais fundamentais que deve aliar mais fortemente as almas poéticas. Para que um devaneio tenha prosseguimento com bastante constância para resultar em uma obra, para que não seja simplesmente a disponibilidade de uma hora fugaz, é preciso que ele encontre sua matéria, é preciso que um elemento material lhe dê sua própria substância, sua própria regra, sua poética específica. E não é à toa que as filosofias primitivas faziam com freqüência, nesse caminho, uma opção decisiva. Associavam a seus princípios formais um dos quatro elementos fundamentais, que se tornavam assim marcas de temperamentos filosóficos. (...) Acreditamos, pois, que uma doutrina filosófica da imaginação deve antes de tudo estudar as relações da causalidade material com a causalidade formal. Esse problema se coloca tanto para o poeta como para o escultor. As imagens poéticas têm, também elas, uma matéria. (...)

Assim, tal como a argila, que determina que a forma esculpida suscitará mais ou menos leveza, decorrente de sua maleabilidade, também a linguagem poética e mesmo alegórica submeter-se-á às imagens suscitadas pela materialidade que sugestiona a mente do criador no ato próprio da criação. O escultor poderá imaginar, mas deverá submeter-se ao material de que se utiliza, da mesma maneira que a matéria prevalecerá, inerte, até que a imaginação a anime e lhe atribua significado. Do barro ao bronze, a mesma forma imaginada obedece a materialidades que nela se suportam e pela qual se expressam. Uma não existe sem a outra.

Herdeiros que somos de longas tradições, existe ainda no mundo uma vertente fiel a essa fenomenologia manifesta no pensamento mágico e simbólico, da qual os monumentos em bronze são evidências marcantes na modernidade das sociedades em que vivemos. É dessa relação do homem com o fazer artístico e, nela, a transmissão do conhecimento e a manipulação do metal pelas propriedades ígneas (o fogo e os minérios), que trata em essência esta exposição.

De fato, na história da escultura destinada aos monumentos em bronze, de acordo com o aporte filosófico sobre a imaginação da matéria, se entrecruzam duas referências importantes: uma delas trata do elemento terra, e a outra, a que mais nos interessa, do elemento fogo, pelo qual a liga de cobre e estanho será fundida para condensar o imaginário de uma época ou cultura por meio da poética mais imediata de um indivíduo/escultor. Veremos que, dentre o imenso conjunto de variações e sutis particularidades do uso do bronze na história da humanidade, há uma parcela de elementos comuns, recorrentes em diferentes épocas e presentes ainda hoje na maneira de cada cultura se expressar. Ao compor seus monumentos, esta singular linguagem cultural híbrida do pensamento artístico e documental mantém viva a necessidade de modernização da técnica para a manutenção da vida social e da expressão estética como há muito inventada pelo homem.

Sem pretender, entretanto, ir tão fundo nos aspectos metafísicos dessa relação, iremos focar algumas características históricas do trabalho artesanal da fundição em bronze com finalidades artísticas para, com isso, apontarmos as virtudes que contemporaneamente têm feito do Centro Técnico em Fundição Artística do SENAI um centro de formação por excelência dessa experiência tão cara à humanidade. É nosso intuito apontar as vicissitudes históricas mais próximas que dão sentido ao mundo de hoje, como, por exemplo, o sentido de preservação da memória, a manutenção de valores estéticos e a capacitação profissional de jovens, enquanto marco de continuidade contra a perda de visibilidade dos valores depositados nos monumentos moldados pelo bronze.


A idade dos metais e a disseminação do bronze em diferentes culturas desde a Antiguidade

Foi por volta de 5000 a.C que a humanidade, consideradas algumas diferenças geográficas, deu início ao período conhecido como Idade do Bronze. Visto sob a ótica de alguns historiadores, o início desse período é também chamado Idade do Cobre, na medida em que a liga metálica decorrente da mistura de cobre e estanho só ocorreria tempos depois, por volta de 3.300 a. C. Entretanto, é sabido que o uso dessa mistura é nada mais que uma derivação aprimorada do uso do cobre em estado puro, mas já precursor do novo ciclo da metalurgia, diferenciador do uso apenas de instrumentos líticos característicos da Idade da Pedra. Sendo necessário entender que a grande revolução histórica ocorre justamente pela introdução do elemento fogo na forja de metais para a fabricação de arados, ferramentas de corte e outros utensílios, tomaremos a idade mais longínqua como referência narrativa primeira em nossa argumentação. A utilização exclusiva do cobre não nos interessará mais do que para datarmos, com início em cerca de 5.000 a. C., a utilização da metalurgia no cotidiano das sociedades primitivas.
Ao que muitos historiadores indicam, a Idade do Bronze é uma etapa da história da humanidade narrada desde a Antiguidade e conhecida por meio de artefatos encontrados em vários sítios arqueológicos do Oriente Médio. A princípio utilizado na fabricação de ferramentas e utensílios domésticos, relacionados à fase de sedentarização e início da agricultura, logo em seguida lhe foram aplicadas formas que hoje consideramos “artísticas”, na medida em que se afastam do mero utilitarismo, para figurar imagens simbólicas e metafóricas compostas de animais, plantas e situações em que o próprio homem é também representado no exercício de funções religiosas ou ações cotidianas. É, pois, sob o signo do fogo que veremos acontecer uma das primeiras e fundamentais transformações das civilizações antigas na história da humanidade.

Durante quase 3.000 anos, resguardadas diferenças culturais e regionais, seriam estas as características gerais do uso do bronze nos primórdios da civilização. A mudança mais significativa se daria séculos depois, com a invenção da moeda metálica pelos chineses, por volta de 1.122 a. C. Decorrente desta invenção, e talvez pela sua funcionalidade em meio ao aprimoramento das trocas e outros ciclos econômicos, veremos a metalurgia ganhar novo impulso em praticamente todos os territórios então conhecidos, assumindo diferentes caracterizações nas diversas culturas em que foi praticada.

A Idade do Bronze começa a partir da ascensão dos povos do antigo Oriente Próximo no quarto milênio antes de Cristo. A região, considerada por alguns como o berço da civilização, praticava a agricultura intensiva durante todo o ano, e desenvolveu um sistema de escrita, inventou a roda de oleiro, criou um governo centralizado, códigos de leis e impérios, introduzindo, além disso, a estratificação social, a escravidão e a guerra organizada. No Antigo Egito, a Idade do Bronze começa por volta de 3.150 a. C. Em sua fase arcaica, conhecida como Período Protodinástico do Egito, ela segue imediatamente a unificação do Baixo e do Alto Egito, cerca de 3.100 a. C. Foi nesse período que as marcas da antiga civilização egípcia, como arte, arquitetura e muitos aspectos da religião, tomaram forma. O primeiro de três períodos "imperiais" da Idade do Bronze foi o Império Antigo Regional, iniciado por volta do terceiro milênio e marcado por pontos altos de civilização no Baixo Vale do Nilo, quando o Egito atingiu seu primeiro pico contínuo de civilização, em complexidade e realizações de grandes esculturas feitas daquele metal. Os outros dois períodos seriam o do Império Médio e do Império Novo, nos quais o culto fúnebre a Osíris ascendeu para dominar a religião popular egípcia, proliferando as peças votivas em pequenos formatos.

Além do Egito, a data de adoção do bronze variou segundo as diferentes culturas. Na Ásia Central (Afeganistão, Irã etc.), o bronze chega por volta de 2.000 a. C. Na China, foi adotado na Dinastia Shang (c. 1.800 a. C.). No Mar Egeu, estabeleceu-se uma área de intenso comércio do metal, principalmente em Chipre, onde existiam minas de cobre (de onde lhe vem o nome), sendo o estanho trazido das Ilhas Britânicas. Com isso, iniciou-se o desenvolvimento da navegação. O Império Minóico, substituído mais tarde pelo Micênico, surgiu graças a este grande comércio. Na Europa Central, o uso do cobre se iniciou a partir de 1.800-1.600 a. C., seguido do período de 1.600-1.200 a. C., caracterizado pelo enterramento de cadáveres em túmulos, prática que demonstrava um alto grau de estratificação social, permitindo perceber também uma grande popularização da técnica de fundição por meio das peças encontradas nos sítios de enterramento. No Norte da Europa, a Idade do Bronze inicia-se entre 2.000-1.700 a. C., período no qual surgiram o comércio de âmbar, muitos petróglifos representando divindades e a vida cotidiana, armas, jóias e também peças em bronze. O final da Idade do Bronze ocorreu entre 1.300-700 a. C., caracterizando-se pelo uso do fogo na incineração dos cadáveres, prática que continuou até os anos 500 a. C., já em plena Idade do Ferro.

Nosso intuito, com essa breve introdução, é mostrar, em primeiro lugar, a longevidade da fundição do bronze enquanto saber técnico, e de que maneira ela acompanhou outros avanços da humanidade, como a navegação, o comércio e a indústria. Outro aspecto que se delineia nesta contextualização é a evidência de que, tão antigo quanto o bronze, é também seu uso na criação da forma simbólica de figuração imagética, intrínseca à sua aplicação prática subordinada às vontades, necessidades e significações de cada cultura/período. Isso nos interessa justamente para explicar que o que chamamos de fundição artística é, em primeiro lugar, um conjunto de conhecimentos muito antigos, disseminados na história da humanidade por meio de uma infinidade de nuances, das quais iremos condensar um conjunto elementar de características comuns. Há muito praticada pelo homem, interessa-nos pontuar e compreender que a aplicação destes recursos contemporaneamente segue sendo de fundamental importância justamente pela maneira como ainda funciona ligada à representação figurativa, como, em essência, fora no passado.


Monumento, história, memória

Por definição, um monumento é uma estrutura construída por motivos simbólicos e/ou comemorativos, mais do que para uma utilização de ordem meramente funcional. Os monumentos são geralmente construídos com o duplo propósito de comemorar um acontecimento importante, ou homenagear um personagem ilustre, e, simultaneamente, criar um objeto artístico que aprimorará o aspecto de uma sociedade ou de uma cultura. Estruturas funcionais que se tornaram notáveis por sua antiguidade, suas dimensões ou seu significado histórico podem também ser consideradas monumentos. No horizonte ampliado deste conceito, o historiador Jacques Le Goff, em sua definição análoga de monumento/documento, aponta:

A memória coletiva e a sua forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos. De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores. Estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador. A palavra latina monumentum remete para a raiz indo-europeia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa ‘fazer recordar’, de onde ‘avisar’,‘iluminar’, ‘instruir’. O monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos.
(...)
Mas desde a Antiguidade romana o monumentum tende a especializar-se em dois sentidos: 1) uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura: arco de triunfo, coluna, troféu, pórtico etc.; 2) um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada: a morte. O monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos.
(...)
Hoje o método seguido pelos historiadores sofreu uma mudança. Já não se trata de fazer uma seleção de monumentos, mas sim de considerar os documentos como monumentos, ou seja, colocá-los em série e tratá-los de modo quantitativo; e, para além disso, inseri-los nos conjuntos formados por outros monumentos: os vestígios da cultura material, os objetos de coleção, os tipos de habitação, a paisagem, os fósseis, e, em particular, os restos ósseos dos animais e dos homens. Enfim, tendo em conta o fato de que todo o documento é ao mesmo tempo verdadeiro e falso, trata-se de pôr à luz suas condições de produção e de mostrar em que medida o documento é instrumento de um poder.


Conceitos artísticos e a figuração nos monumentos

Até que ponto, ou de que maneira a linguagem simbólica dos monumentos coincide com a técnica do bronze seria assunto demasiadamente extenso para caber em nossa análise. Basta-nos, para nossa explanação, observar a longeva postura que, ao longo da história, diversas sociedades assumiram, ao condensar em seu repertório de valores a aplicação desta singular combinação, desde sua forma mais rudimentar, cotidiana e votiva, tal como visto nas divindades domésticas entre os povos sumérios (ILUSTRAÇÃO 1), egípcios (ILUSTRAÇÃO 2), etruscos (ILUSTRAÇÃO 3)  e africanos (ILUSTRAÇÃO 4 e 4a), até o domínio do espaço público, tal como praticado entre gregos, romanos, em boa parte da civilização medieval ocidental e, derivado desta, na reinvenção moderna dos monumentos nacionais, a partir do Renascimento. O caso da Lupa Capitolina (ILUSTRAÇÃO 5), é exemplar, ao mostrar que, mesmo sob o domínio da igreja católica, durante séculos, os valores cívicos romanos perduraram sob a égide simbólica de seu mito de origem, na figura da loba que alimenta os netos de Eneias e fundadores de Roma, Rômulo e Remo. Nesse mesmo sentido, fomentada pelo avivamento do gosto historicizante e classicista do Renascimento, a proliferação de monumentos, a exemplo da estátua equestre de Bartolomeo Colleoni (ILUSTRAÇÃO 6 e 6a) projetada por Andrea Del Verrocchio, renderia frutos sempre maiores e mais eloquentes até nossos dias.

Outra maneira, pouco usual, porém certamente muito significativa, de pensar o ímpeto civilizatório manifesto na simbiótica relação entre a linguagem dos monumentos e o bronze é imaginarmos como teriam sido os anseios nacionalistas, sobretudo a partir dos séculos XVIII e XIX, sem a existência de estátuas e monumentos de bronze. Bastaria, para tanto, lembrarmos o quanto as culturas alheias a esta escolha sofreram em termos de condensação da história por meio da narrativa oral e das manifestações imateriais da cultura. Estes recursos mnemônicos, ainda hoje tão carentes de entendimento, passariam a ter sua devida consideração somente a partir de meados do século XIX, ou seja, muito tardiamente, e ainda assim marcados pelas ambiguidades da noção de folclore que definiria o campo no qual seriam principalmente enquadrados, com evidente conotação de inferioridade frente ao registro documental escrito.  Mais tarde, outros instrumentos mais eficazes, advindos das Ciências Sociais, em especial da Antropologia, e das tradições das disciplinas históricas os tornaram objeto de estudo e análise, mas foi preciso esperar até o final do século passado para que, na década de 1980, a publicação da monumental História Geral da África1 devolvesse aos próprios historiadores africanos a iniciativa de demonstrar que a oralidade não é um sinônimo de falta ou carência frente à escrita ou outro tipo de registro de memória como os monumentos, mas sim uma forma específica de compreender e registrar a história e a memória de um determinado povo.

De todo modo, na tradição da civilização ocidental, os monumentos figurativos em bronze, mais do que tudo, foram a saída estratégica bastante eficaz para a disseminação dos postulados cívicos e, por que não dizer, da ideologia, da moral, das leis e dos costumes de sociedades que, por meio do imaginário nacionalista, difundiram uma infinidade de valores correlatos, mundo afora, a partir da Revolução Francesa. É certo que a pintura de cunho histórico seguiu com o bronze este percurso pari passu, mas talvez ela tenha sido demasiado elitista, encerrada na subjetividade do artista ou concentrada em museus pouco visitados e coleções privadas, enquanto os monumentos públicos, por sua natureza mais proeminente, permaneceram à vista de um número maior e indiscriminado de observadores. Por outro lado, dizer que os monumentos públicos, nas grandes cidades, são hoje mais vistos que as pinturas dos museus poderia nos fazer incorrer em uma generalização um tanto arriscada, uma vez que a dinâmica de megalópoles como São Paulo contribui muito mais para a perda do que para o favorecimento de sua visibilidade. Entretanto, estamos falando da sensibilidade construída em um dado momento do passado, avaliando seu ciclo histórico, quando nem sempre foi assim.


Aspectos da fundição artística no Brasil, do século XVIII ao século XX

A fundição artística no Brasil começa já no primeiro século após a chegada dos portugueses, com a instalação das primeiras fundições de ferro no interior de São Paulo, promovidas por Afonso Sardinha. Ali, na região de Iperó, próximo a Araçoiaba da Serra, no chamado Vale das Furnas (hoje, área de preservação da Floresta Nacional Ipanema), foram instalados inicialmente um forno e duas forjas de ferro nos moldes europeus, posteriormente incrementados por outros baseados no modelo chamado de “africano”2. Em fins do século XVII, a descoberta de jazidas de minério na região de Minas Gerais fomentou o desenvolvimento da Colônia. Desde então, a produção de utensílios domésticos, armas e moedas passou a ser o principal foco de desenvolvimento dos até então rudimentares núcleos de fundição, não havendo preocupação com a qualidade das fundições, que pouco ou quase nada fizeram pela fundição artística durante o período.

A primeira Casa da Moeda do país foi implantada na Bahia, em 1694, sendo extinta em 1702, quando foi transferida para Pernambuco por um ano e, depois, para o Rio Janeiro, que viria a se tonar a nova capital. No século XVIII, com a expansão do Ciclo do Ouro em Minas Gerais, chegaram a funcionar três Casas da Moeda no Brasil. Cunhava-se moeda em Minas Gerais, na Bahia e no Rio de Janeiro, sendo todas elas supervisionadas pela Casa da Moeda de Lisboa, que orientava as atividades desenvolvidas neste setor.

Entretanto, até a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, as fundições na Colônia eram rigorosamente controladas devido à constante ameaça de insurreição, uma vez que o domínio técnico dos processos de trabalho permanecia nas mãos de grande número de escravos, dando-lhes um perigoso e temido poder. Alguns historiadores e especialistas afirmam que o desenvolvimento da metalurgia no país teria sido possível levando-se em conta a abundância de minérios facilmente exploráveis, mas a administração colonial sempre moveu uma feroz perseguição aos que poderiam realizá-lo. Era notório que “o simples fato de alguém saber fundir o metal seria suficiente, muitas vezes, para torná-lo suspeito de idéias extremadas e subversivas, sujeitando a vítima a toda sorte de perseguições”3.

Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim (c. 1757-1813), um dos maiores escultores e arquitetos brasileiros do século XVIII, tornou-se o primeiro fundidor artístico nacional. Nascido em Minas Gerais, filho de uma escrava brasileira e de um fidalgo português, realizou seus estudos em Lisboa por incentivo de seu pai, passando a fundir peças de arte para igrejas e espaços públicos. Seu maior projeto foi a construção do Passeio Público do Rio de Janeiro, área compreendida entre o Boqueirão da Praia e a Lapa, que conserva ainda hoje as marcas da genialidade do artista. À frente da obra durante anos, Valentim realizou a fundição dos medalhões de bronze dourado dos portões, o projeto de cantaria e os bronzes da Fonte dos Amores (ILUSTRAÇÃO 7 e 7a), além das estátuas de Narciso e Echo, hoje preservadas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ILUSTRAÇÃO 8).

Apesar disso, a fundição artística no Brasil permaneceria comprometida como durante os primeiros séculos, e ganharia impulso somente após a chegada da Missão Artística Francesa em 1816, quando, com o abrandamento das proibições, por aqui aportaram novos conhecimentos sobre modelagem e fundição, trazidos por professores europeus especializados como o escultor Auguste Marie Taunay (1768-1824) (ILUSTRAÇÃO 9), o gravador e medalhista Charles-Simon Pradier (1783-1847) e os irmãos Marc Ferrez (1788-1850) e Zepherin Ferrez (1797-1851), estes últimos chegados um ano depois. Daí nasceria a Academia Imperial de Belas Artes (posteriormente Escola Nacional), tornando-se principal centro de formação artística do país, e o aprimoramento do ensino de escultura e estatuária ali propiciado ajudaria a fomentar a demanda, à medida que, por contingências políticas, o país se envolvia com o processo de afirmação do imaginário nacional no pós Independência.

Segundo almanaques comercias da época4 e outras fontes históricas, esse fato, aliado ao gosto estético da nova burguesia emergente, fomentou o surgimento de várias fundições comerciais no Rio de Janeiro – a maioria delas envolvida com a produção de utensílios domésticos e de decoração, mas que não davam conta dos desafios técnicos envolvidos nas grandes obras monumentais. Raras notícias apontam onde e como eram executadas as obras artísticas. Apesar de alguns países europeus e dos EUA serem, naquele momento, centros de prosperidade e pólos de industrialização, o Brasil permaneceu economicamente agrário e comercial, e a metalurgia com fins artísticos e decorativos não encontraria aqui maior campo para o seu desenvolvimento. Vários monumentos públicos de grande porte, como a estátua equestre de Pedro I(ILUSTRAÇÃO 10),, feita por Louis Rochet, e a estátua do General Osório (ILUSTRAÇÃO 11), e o Monumento ao Descobrimento do Brasil, ambas de autoria do então “escultor oficial” Rodolfo Bernardelli, tiveram que ser executados em Paris5 (ILUSTRAÇÃO 12 e 12a). Sabe-se, entretanto, que por volta de 1882 o escultor Candido Caetano de Almeida Reis funde sua estátua O Progresso, destinada a encimar a fachada Estação Ferroviária Central Dom Pedro II (ILUSTRAÇÃO 13), na Fundição da Ponta da Areia, em Niterói. Mas isso são dados esparsos.

Ainda no final do século XIX e começo do XX, fruto da reurbanização da cidade do Rio de Janeiro promovida por Pereira Passos, surgiram algumas metalúrgicas especializadas no processo artístico, a exemplo da Fundição Indígena e da Fundição Cavina, responsáveis pela maior parte das fundições que contribuíram para o início do aperfeiçoamento técnico no país.

Fundada em 1828 como Imperial Fundição, a história da Fundição Indígena está intrinsecamente ligada ao processo de consolidação industrial e comercial da fundição artística no Brasil. Por este motivo, alguns aspectos de sua particular trajetória são emblemáticos para contar como se configurou a demanda por fundições artísticas nas primeiras três décadas do século XX.

A empresa se destacaria por ser a mais antiga e tradicional do país, produzindo peças, ferramentas, máquinas e artigos decorativos por mais de um século. Herdeira da tradição metalúrgica que durante o Segundo Império se expandiu vertiginosamente, destinando-se basicamente à variada produção de peças para carruagens, máquinas a vapor, barcos e equipamentos agrícolas, assume de fato o nome de Fundição Indígena por volta de 1902. Antes disso, disputou o mercado com inúmeras outras casas comerciais do ramo que atendiam a enorme demanda de um país em franco crescimento, em uma capital ávida pelo luxo. O diferencial da Indígena, cujo nome já diz muito, foi ser a pioneira em tentar “nacionalizar” seus produtos, dando também chance para que alguns artistas fundissem pequenas peças em bronze, encomendadas pela sociedade carioca na Belle Époque.

O panorama histórico que se estendeu até princípios do século XX veria crescer cada vez mais a produção de cunho nacionalista, porém, com autores invariavelmente à margem da temática e do tratamento acadêmicos oficiais. É no bojo do crescimento econômico da época, e focada no excedente artístico que atendia a uma demanda intermediária, que algumas fundições resolvem prestar serviços a alguns bravos escultores, situados à margem do monopólio oficial estabelecido por Bernardelli. É nesse contexto também que, por volta de 1889, a já tradicional “Imperial Fundição Costa Ferreira & Cia” de propriedade do Sr. Custódio da Costa Ferreira se associa a João Farinha dos Santos para daí, com a entrada dos novos sócios Antonio dos Santos Carvalho e Antonio Paes Rodrigues, criar a Fundição Indígena (ILUSTRAÇÕES 14 e 14a).

Em funcionamento durante 117 anos, a Fundição Indígena teve, nas últimas décadas do século XIX e começo do XX, o privilégio de receber em suas oficinas artistas como Rafael Bordallo Pinheiro, Otávio Correa Lima, Nicolina Vaz de Assis e Umberto Cavina. Contemporânea ao período de pujança econômica e de grandes remodelações urbanas, ajudou a povoar a o Rio de Janeiro com seus gradis, balaustres, monumentos, luminárias e toda sorte de objetos decorativos, desde pias, torneiras, capitéis e banheiras, às obras de arte propriamente ditas que ajudaram a dar ao Rio de Janeiro título de “Cidade Maravilhosa”.

A Fundição Cavina, fundada em 1915 pelos fundidores dissidentes da Fundição Indígena Rômulo Cavina e seus filhos, seguiria a vocação de prestar serviços a artistas dentro de um panorama histórico já muito diferente do século XIX.

Em São Paulo, o trabalho de formação de mão de obra especializada em metalurgia se inicia com a criação da primeira oficina de fundição para fins didáticos na então Escola Politécnica, situada no bairro do Bom Retiro. A pequena fundição, idealizada pelo fundador da Escola, Antônio Francisco de Paula Souza, já estava prevista em plantas de 1899, mas as operações só começaram em dezembro de 1902, com a inauguração oficial em fevereiro do ano seguinte. De fato, a situação da fundição artística em São Paulo só se consolidaria por volta de 1910, ligada às atividades do Liceu de Artes e Ofícios e decorrente do crescimento urbano.

Outro impulso importante foi dado pelos esforços arregimentados para a execução do Monumento do Ipiranga, às vésperas das comemorações do Centenário da Independência. Neste projeto trabalharam imigrantes italianos que, anos depois, inaugurariam algumas das fundições comerciais na cidade. Exemplos disso foram artistas como Roque de Mingo, Amantino Rebelatto (ILUSTRAÇÃO 15) e Amadeo Zani (ILUSTRAÇÃO 16). Este último, já mais experiente, estudou no Rio de Janeiro com Rodolfo Bernardelli e, após duas estadias em Roma, entre 1911 e 1913, para realizar a fundição do monumento à Glória Imortal dos Fundadores de São Paulo, e novamente em 1915, em virtude da encomenda de outros três trabalhos (Monumento a Verdi, Capela Fúnebre do Conde Alessandro Siciliano e do Monumento a Alfredo Maia), traria a São Paulo uma equipe de mestres artesãos para trabalhar com ele no Liceu de Artes e Ofícios e em sua própria fundição, onde seus filhos, Curzio e Zeno, também se iniciariam na profissão7. Retornando ao Rio de Janeiro na década de 1930, seus descendentes fundaram a Zani Fundição Artística e Metalurgia Ltda., em atividade até hoje.

Para se ter uma idéia dos relevantes avanços ocorridos em São Paulo neste setor durante a primeira metade do século XX, basta lembrar a fundição, pelo Liceu de Artes e Ofícios, da escultura equestre do Duque de Caxias, instalada na Praça Princesa Isabel. Por volta de 1946, ela era a maior escultura equestre fundida em bronze do mundo. Uma experiência ousada, que implicou em um virtuosismo técnico excepcional, lembrado ainda hoje pelo famoso jantar para quarenta pessoas dado no interior da figura do cavalo, antes de ser finalizada.

Seria praticamente impossível imaginar naquela época que, passados pouco mais de trinta anos, praticamente nada restaria em termos do conhecimento, da sofisticação tecnológica e da habilidade daqueles mestres artesãos. A fundação de Brasília como nova capital em 1960 (ILUSTRAÇÃO 17) terá sido talvez o último grande momento em que se considerou urbanisticamente no país a utilização da linguagem monumental da escultura como elemento ordenador da memória coletiva (ILUSTRAÇÃO 18). Outros exemplos, a partir de então, não corresponderiam em grandeza nem em importância ao passado glorioso da fundição de monumentos em bronze. Por mais que se invoquem em justificativa a retração da demanda comercial, as mudanças estéticas, os novos suportes de registro da memória ou o aumento do uso de novas tecnologias e materiais, ainda assim é inexplicável o desinteresse geral pela preservação desta técnica historicamente tão significativa e bem consolidada.

Muitas são, pois, as razões para se resgatar o conhecimento a respeito da fundição artística no Brasil. Podemos elencar, neste sentido, o significado de preservação da memória cultural de grandes artistas que só puderam deixar registrado seu excepcional trabalho em gessos guardados nos porões de diversos museus país afora. Mas há também a responsabilidade sobre a salvaguarda dos monumentos públicos, já que, sem esse conhecimento, seria impossível restaurar, a contento, as obras mantidas nos logradouros públicos. Essa tarefa não seria viável sem a compreensão histórica, o conhecimento técnico, o aporte tecnológico e a sensibilidade humana de cada jovem artesão, tal como demonstrou a iniciativa do SENAI São Paulo por meio da criação do Centro Técnico em Fundição Artística da Escola SENAI Nadir Dias de Figueiredo, ação pioneira, que esperamos tenha fôlego para manter abertos os caminhos futuros da fundição artística no Brasil.

A esta iniciativa somam-se a participação do SESI - SP na difusão do conteúdo desta exposição e seu catálogo, bem como os esforços de artistas como o escultor Israel Kislansky, que cedeu suas obras para que, neste aprendizado no Centro Técnico em Fundição Artístca, estivesse presente a inspiração da arte, sem a qual a natureza única e profunda da imaginação criadora, inerente a cada etapa do processo, não haveria de ser jamais tangida.

GILBERTO HABIB OLIVEIRA  out/ 2012




Notas:
  1. KI-ZERBO, Joseph. História Geral da África. Vol. I. Metodologia e Pré-História. Brasília: UNESCO/MEC, 2010. Tradução da edição original, General History of Africa, I: Methodology and African Prehistory. Paris: UNESCO;
Berkley, CA: University of California Press; London: Heinemann Educational Publishers Ltd., 1981.
2.       SANTOS, Nilton Pereira dos. Sobre a fábrica de ferro São João de Ipanema: economia e política nas últimas décadas do Segundo Reinado (1860-1889). São Paulo: FFLCH/ USP, 2009 (Dissertação de Mestrado).
3.       PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo, 1965, p. 110.
4.       Almanak Mercantil, Administrativo e Industrial do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Laemmert, 1844 - 1938
5.       Cf. MATTOS, Ana Lúcia. Monumento do Descobrimento do Brasil por Rodolfo Bernardelli. In: Boletim do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro: MNBA, 1986. Segundo a autora, a escultura teria sido fundida pela Fundição Thiébaut et Fils de Paris; outras fontes mencionam a Fundição Barbedienne, também em Paris.
6.       Amadeo Zani. Autobiografia. São Paulo, março de 1927 (depoimento datilografado)



Bibliografia

BACHELARD, Gaston. A Psicanálise do Fogo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
---------------------------. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
CARRUBA, Anna Maria. La Lupa Capitolina – Um bronzo medievale. Roma: De Luca Edtori D’arte, 2006.
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: Enciclopédia Einaudi. Vol. 1. Memória-História. Lisboa: Imprensa
                Nacional-Casa da Moeda, 1984.
LAGO, Luiz Aranha Corrêa do. A moeda metálica em perspectiva histórica: notas em torno de uma exposição. 1a
                Parte: De cerca de 600 a.C ao Séc. XV d.C. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2004.
MATTOS, Ana Lúcia. Monumento do Descobrimento do Brasil por Rodolfo Bernardelli. In: Boletim do Museu Nacional
                de Belas Artes. Rio de Janeiro: MNBA, 1986.
SCARPELINE, Rosaelena et al. Monumento-túmulo Carlos Gomes. Campinas: UNICAMP, 2007 (Relatório de restauro e
                perícia técnica).
PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo, 1965.
RIBEIRO JR., Ademir e SALUM, Marta Heloísa Leuba (Lisy). Estudo Estilístico e Iconográfico das esculturas Edan do
                Acervo MAE-USP.
SANTOS, Nilton Pereira dos. Sobre a fábrica de ferro São João de Ipanema: economia e política nas últimas décadas
                do Segundo Reinado (1860-1889). São Paulo: FFLCH/ USP, 2009 (Dissertação de Mestrado)












ILUSTRAÇÕES

sargon4.jpg (ILUSTRAÇÃO 1)
Cabeça de um soberano Acadiano
Nínive, c. 2300-2200 a. C.
Bronze
Alt. 30 cm
Museu do Iraque, Bagdá

seth.jpg( ILUSTRAÇÃO 2)
Estátua de bronze da sacerdotisa Takushit do período de apogeu da metalurgia egípcia. Mede cerca de 70 cm de altura. Egito. Terceiro Período Intermediário (1070 - 664 a. C.). Museu Nacional de Arqueologia, Atenas, Grécia.

Takushit, sacerdotiza do período de apogeu da metalurgia
Egito, Terceiro Período Intermediário, 1070 - 664 a.C.
Bronze
Alt. 70 cm
Acervo Museu Nacional de Arqueologia, Atenas, Grécia

Etrusco 0948 E 2008 Masp_1327.jpg  (ILUSTRAÇÃO 3)
Enócoa  (jarro de vinho)
Civilização etrusca, séc. VI - V a. C.
Bronze
 22 x 25 x 14 cm
Acervo MASP (Doação Lina e Pietro Maria Bardi)

Edan 72-3-4.jpg(ILUSTRAÇÃO 4)
Edan (objeto ritual) da associação Ògbóni
Nigéria, Africa
Acervo MAE/ USP

[Ògbóni é uma instituição político-religiosa tradicional da cultura ioruba da Nigéria, relacionada ao culto a uma poderosa divindade feminina, Ilê, a “Terra” ou “território”, “casa”, lugar de morada do homem. Edan designa uma forma específica de escultura em liga metálica de cobre, ou bronze, formada por duas peças unidas por uma corrente, representando uma figura masculina e outra feminina, e cuja função é a de dar forma material à força espiritual que representam, como um “invólucro” que a contém, ao contrário das esculturas dos orixás, que os simbolizam, mas não encarnam sua força.  Os edans, são, portanto, figuras sagradas e objeto de culto, sendo sua produção cercada de inúmeros ritos e permitida apenas a anciãos, repeitados e temidos por sua capacidade de, pelo fogo, transformar a matéria dos metais, produzindo a liga avermelhada, o “sangue vermelho”do reino mineral, portador de axé. O bronze é reservado exclusivamente às esculturas dos edans, enquanto aquelas dos orixás podem ser feitas com vários materiais distintos. Isto se deve não só à sua durabilidade, mas também à superioridade que lhe é atribuída por causa da cor, do brilho e até da tecnologia demandada tanto para a extração e manipulação de minérios quanto para a elaboração artística do metal. Aparentemente tridimensionais pelo volume, as esculturas edan, no entanto, detalham apenas a sua parte frontal, transformando-se em ícones hieráticos, em contraste com a representação descritiva dos orixás. As esculturas ògbóni têm múltiplos usos e, no caso do edan, ele pode ser utilizado para prever o futuro, curar doenças, afastar maus espíritos, julgar cidadãos, enterrar defuntos, entre outros. O edan é o elo que une a comunidade a Ilè.]              

lupa-capitolina la_lupa_capitolina_large(ILUSTRAÇÃO 5)
A Loba Capitolina (em italiano “lupa”) é um dos símbolos mais significativos de Roma e representa o mito de fundação da cidade. Descrita em relatos e documentos desde a Idade Média, acreditava-se ser de origem etrusca. Porém, estudos recentes baseados nos processos de fundição pelos quais foi fundida, demonstraram ser obra feita por volta do século VIII, período em surgiram na Europa técnicas de fusão em bronze desse tamanho, ocas e em uma única peça.
Naya,_Carlo_(1816-1882)_-_n._034_B_-_Venezia_-_Monumento_a_Bartolomeo_Colleoni.jpg     verrocchio_colleoni.jpg  (ILUSTRAÇÃO 6 e 6a)
ANDREA DEL VERROCHIO
 Escultura equestre de Bartolomeo Colleoni, 1488
Bronze (molde em gesso por Alessandro Leopardi)
Campo di San Giovanni e San Paolo, Veneza


[A estátua foi erguida pela República de Veneza, segundo disposições do testamento do Condottiero Colleoni, antigo General da República que, falecido em 1475, lhe deixava em legado grande parte de seus bens, à condição de que se encomendasse e mandasse erigir a referida estátua em sua honra. Aberto um concurso para a escolha do escultor encarregado de sua execução, foram apresentados projetos por Verrocchio, de Florença, Alessandro Leopardi, de Veneza, e Bartolomeo Vellano, de Pádua, sendo Verrocchio o vencedor. Este abriu então um ateliê em Veneza, onde produziu o modelo final em argila, a partir do primeiro modelo em cera, que estava pronto para ser fundido em bronze quando o escultor faleceu, em 1488. Embora Verrocchio recomendasse que a estátua deveria ser terminada por seu discípulo Lorenzo di Credi, então à frente de seu ateliê em Florença, o estado veneziano, após longa hesitação, finalmente decidiu contratar Alessandro Leopardi para essa tarefa. Fosse ela realizada pelo próprio Verrocchio, provavelmente a escultura teria outro tipo de acabamento, mas o importante é que, não sendo um retrato do Condottiero, que o artista jamais conheceu, ela expressa um magnífico sentido de movimento ao transmitir a ideia de um comandante militar forte e implacável, de uma grande energia e um poder titânico.]


DSC_0570a.jpg  DSC_0551a.jpg (ILUSTRAÇÃO 7 e 7a)
MESTRE VALENTIM
Fonte dos amores, c. 1783
Passeio Público do Rio de Janeiro
Foto: Israel Kislansky

Fund Zani RJ foto Gilberto c 1998 (1).JPG (ILUSTRAÇÃO 9 – ver qual a melhor)
Narciso (original sendo restaurado na Fundição Zani, Rio de Janeiro, em 1996)
 Foto: Gilberto Habib

Fund Zani RJ foto Gilberto c 1998 (4).JPG Echo (original sendo restaurado na Fundição Zani, Rio de Janeiro, em 1996)
Foto: Gilberto Habib

IMG_1168.JPG  Narciso (original já restaurado, fotografado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011)
Foto: Gilberto Habib

IMG_1169.JPG Echo (orignal já restaurado, fotografado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011)
Foto: Gilberto Habib

IMG_1181.JPG Narciso e Echo (reproduções instaladas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro conforme sua disposição original, feita para o Passeio Publico)
Foto: Gilberto Habib

Ferrez-MHN-dpedroI.jpg (ILUSTRAÇÃO 9)
AUGUSTE TAUNAY
Busto de D. Pedro I
Gesso
Acervo Museu Histórico Nacional/ IPAHN – MINC

ims_revert_henrique_klumb_estatua_pedro_i_miniatura (ILUSTRAÇÃO 10)
REVERT HENRIQUE KLUMB
Fotografia do Monumento a Pedro I (Rio de Janeiro), década de 1860
Fotografia Acervo Instituto Moreira Salles – Coleção Gilberto Ferrez

PcaXV-inaug-Osorio-RodBernardelli1894 (ILUSTRAÇÃO 11)
Inauguração do Monumento ao General Osório na Praça XV, primeiro grande monumento do período republicano, em 12 de novembro de 1894.
2971950497_5614f91042_z (ILUSTRAÇÃO 12)
Cartão Postal com imagem da fachada do antigo edifício da Estação Ferroviária Central do Brasil com a escultura de Almeida Reis logo acima do relógio (não se tem notícias de seu destino desde a demolição do prédio na década de 1930).

foto 2.JPG (ILUSTRAÇÃO 13)
O escultor Rodolfo Bernardelli em Paris, defronte ao modelo em gesso da escultura de Pedro Álvares Cabral para o Monumento ao Descobrimento do Brasil, dezembro de 1899
Acervo MNBA, Fundo Rodolfo Bernardelli

image065 (ILUSTRAÇÃO 13a)
Inauguração do Monumento ao Descobrimento do Brasil no Rio de Janeiro, em 3 de maio 1900.

       (ILUSTRAÇÕES 14 e 14a)
Anuncios no Almanak Laemmert de 1889 e 1902. No primeiro a Imperial Fundição Costa Ferreira & Cia apresenta seu sócio João Farinha dos Santos que em 1902, já em sociedade com Antonio dos Santos Carvalho, mudaria o nome para Fundição Indígena.

 Scan_Pic0447.jpg (ILUSTRAÇÃO 15)
Equipe de operários da Fundição Zani – RJ, diante do Monumento a Santos Dumont, no Rio de Janeiro, de autoria de Amadeo Zani,
1940. Acervo Família Zani

Fund Rebelatto SP - foto Gilberto c 1994 (8).JPG Fund Rebelatto SP - foto Gilberto c 1994 (10).JPG  Fund Rebelatto SP - foto Gilberto c 1994 (1).JPG (ILUSTRAÇÃO 16 – selecionar uma das fotos)
Operários trabalhando na Fundição Rebelatto, São Paulo, 1994
Foto: Gilberto Habib

Scan0004.jpg (ILUSTRAÇÃO 17)
Zeno Zani ao lado da obra Guerreiros (Monumento aos Candangos), de Bruno Giorgi, executada pela Fundição Zani
 Brasília, c. 1960. Acervo Família Zani

16.jpg (ILUSTRAÇÃO 18)
Brasília, com silhueta do Monumento aos Candangos, de Bruno Giorgi
Foto: Israel Kislansky